O objetivo deste artigo é apresentar os motivos que nos levaram a escolher o nome William Carey como patrono da nossa escola. A busca por um nome é extremamente importante para uma instituição de ensino, pois através do nome, comunicamos aspectos da identidade, missão e valores institucionais. Considerando o fato de estarmos localizados na cidade de Franca, no interior de São Paulo, divisa com o estado de Minas Gerais, onde a mentalidade do nosso povo é mais mineira do que paulista, como fora o cidadão romano da antiguidade que era conhecido por ter mais da mentalidade grega do que a romana propriamente dita, assim também, em Franca somos paulistas com a mentalidade mineira, uma bela combinação de trabalho e leveza, seriedade e descontração. O fato é que temos muita brasilidade na nossa região e neste sentido, segundo os auspícios das últimas tendências teóricas do marketing, batizar uma escola com um nome estrangeiro não seria uma boa ideia. No início do Colégio William Carey tínhamos a preocupação de como ficaríamos conhecidos na cidade. Talvez nos chamariam de CWC, ou algum pai diria com orgulho: – O meu filho estuda lá no William! Assim sendo, tenho que ser honesto para reconhecer que muitos não acertam na pronúncia correta do nosso nome de batismo. Todavia, sem hesitar escolhemos o nome William Carey para expressar o nosso trabalho educacional e confessional. Quem foi este homem? Quais os motivos que levaram uma comunidade francana a homenagear esta personalidade não conhecida nacionalmente? Este ensaio busca responder estes e outros questionamentos.
Nascido na zona rural de Northamptonshire, centro da Inglaterra, em 17 de agosto de 1761, de origem pobre e humilde, William Carey viveu no período de ouro do movimento missionário, conhecido como o grande século das missões protestantes. Nomes como Henry Martyn, Adoniram Judson, Robert Morrison, Robert Moffat e David Livingstone, conheceram pessoalmente Carey ou foram influenciados diretamente por ele e fizeram missões em países como Índia, Birmânia, China e África. Esse grande movimento missionário foi impulsionado pelo grande avivamento ocorrido no mesmo período, na Inglaterra e nos Estados Unidos da América, onde Jonathan Edwards, George Whitefield e John Wesley estavam pregando o evangelho da Glória de Deus em Cristo Jesus.
No âmbito cultural e social, a Inglaterra do tempo de Carey era governada pela família real de Hanôver, o estilo de vida das pessoas era digno e regrado. Os londrinos lotavam a Abadia de Westminster para ouvir, encantados, o Messias de Handel. Também era uma época marcada por revoluções e guerras. As revoluções francesa e americana iriam suspender a paz do mundo antes de Carey partir em definitivo para a Índia. Carey teve uma infância humilde, pessoas que conviveram com ele afirmaram que sua infância foi marcada por uma simplicidade e transparência características de uma criança normal. Seu pai relatou que quando menino, ele tinha um grande desejo de aprender. Filho do professor Edmund Carey, William foi alfabetizado cedo e o interesse por educação e bons livros se tornou uma parte fundamental da sua vida. Acostumado a ler as Escrituras desde a infância, desenvolveu o gosto por livros de aventura, ciência e história, tinha como livro favorito: O Peregrino, de John Bunyan.
O tio de William Carey, chamado Peter exerceu uma grande influência sobre ele, pois quando os afazeres diários estavam terminados, William procurava o seu tio Peter para ouvir histórias de aventura, pois Peter havia servido o exército britânico durante a juventude e falava com entusiasmo das suas experiências ao velejar pelos mares traiçoeiros, lutando contra os franceses no Canadá e diversas histórias que capturavam a atenção do seu curioso sobrinho. Os colegas de classe chamam Carey de Colombo, pois já estava vislumbrando a vastidão do mundo que de alguma forma o atraía para longe em seu rico imaginário. Aqui encontramos um princípio que carregamos como escola cristã, a valorização da família como primeira e mais importante comunidade educacional. Ouso a dizer que uma escola cristã clássica é uma espécie de associação de famílias, um lugar de segurança e esperança para famílias. A formação abrangente de William Carey começa na família, por isso, uma escola que nega a primazia da família ou busca assumir o papel da família, está fadada ao fracasso e por consequência perderá a sua identidade.
Atualmente, a cultura de terceirização atinge o mundo globalizado, sobretudo a família, e essa por sua vez começou a aceitar tal proposta, delegando a formação moral e espiritual para terceiros. Neste sentido, o Colégio William Carey surge para trabalhar ao lado das famílias, servindo e fortalecendo a família nuclear. No âmbito profissional, com a idade de 14 anos Carey começou a trabalhar como sapateiro, aprendendo a profissão que exerceria até os seus 28 anos. Aqui está uma curiosidade e um ponto de convergência com a cultura da cidade Franca, pois somos conhecidos como a capital nacional do calçado e a nossa economia está diretamente ligada a produção de calçados. William Carey foi um excelente sapateiro assim como milhares de francanos.
Não temos espaço para registrar toda a vida de Carey, por isso, daremos um salto para a sua vida adulta e resumiremos a sua história com as seguintes palavras: William Carey se tornou um pastor e missionário batista, foi casado e pai de seis filhos. É conhecido como “pai das missões modernas” e foi um dos fundadores da Sociedade Batista Missionária de Londres, na Inglaterra. Foi enviado como missionário à Índia em 1793, onde trabalhou frutiferamente por 41 anos, até a sua morte em 1834, nunca tendo retornado à Inglaterra. Juntamente com William Ward e Hannah Marshman, fundaram mais de 120 escolas para meninos e meninas, imprimiram mais de 213.000 volumes das Sagradas Escrituras em 40 línguas diferentes. Foi um dos fundadores da Sociedade Agrícola e de Horticultura da Índia, Fundador da Universidade de Serampore. Escreveu dicionários, gramáticas, periódicos que ajudaram na alfabetização e no desenvolvimento da Índia. Ainda em vida, conseguiu influenciar os políticos da época na proibição do Sutte (sati) que consistia na cruel prática hindu de queimar a viúva junto ao corpo de seu esposo falecido. Acredito que agora, você compreende o motivo da escolha do nome William Carey para patrono do nosso colégio.
Por fim, apresento 6 motivos que a partir do legado de William Carey, nos inspiraram para nomear a escola com o seu belo nome, e que seguem nos motivando diariamente no trabalho educacional escolar cristão:
- Conferir valor infinito a cada aluno, a cada criança como ser humano único, dotado de capacidades e de uma alma eterna. Desde que iniciou o seu ministério na Índia Carey mostrou amor por cada indiano. Os seus companheiros na Missão de Serampore atestaram a sua disposição em sacrificar os seus bens materiais e ultrapassar as suas obrigações, sempre fazendo um esforço a mais para o bem eterno das almas sobre os seus cuidados. Atribuir valor incomensurável ao ser humano era o seu lema. Em dias onde os animais são mais valorizados do que os homens, onde o aborto é legalizado por todo o mundo, carregar o legado de valorização humana é um motivo de orgulho para o Colégio William Carey.
- Trabalhar arduamente para alfabetizar as crianças na idade certa, para que leiam as Escrituras, leiam a vida, leiam os livros, enxerguem o mundo com os seus próprios olhos a partir da visão de mundo cristã. Na qualidade de pastor-missionário, William Carey tinha o objetivo de evangelizar a Índia, ensinar a palavra de Deus. Porém, ele encontrou grandes desafios sociológicos nas regiões que viveu. Em algumas localidades ele se deparou com a ausência de registros gramaticais do idioma local, onde a predominância da comunicação era oral. Como Carey ensinaria a Bíblia para um povo que não tinha uma gramática, um dicionário, um idioma decodificado? Como os indianos leriam a Bíblia na sua própria língua? William Carey respondeu estas difíceis questões com ordenamento, trabalhando com perseverança na alfabetização das crianças e dos adultos, criando escolas e traduzindo bíblias para língua do povo. Foi uma grande semeadura que produziu uma farta colheita. Deste modo, a nossa escola trabalha para plena alfabetização por intermédio do método fônico e de uma rica cultura literária para que tenhamos leitores competentes.
- Lutamos pela genuína promoção dos direitos humanos, do amor e do respeito ao próximo como a história cristã e a de William Carey atestam. Carey não descansou até ver a barbaridade do ritual hindu de queimar viva a viúva junto ao corpo do esposo falecido. Graças a Deus a nossa escola é um ambiente rico de interações sociais, nela tem espaço para o filho da empregada doméstica e do médico. Infelizmente as escolas atuais são extremamente segregadas por questões econômicas e sociais. O Colégio William Carey possui um ambiente educacional rico de interações que promovem o desenvolvimento humano e a empatia.
- Almejamos a formação do autodidatismo em cada aluno. Um aluno autodidata é raridade nos dias de hoje. Entretanto, através da aplicação da metodologia educacional clássica o autodidatismo se torna acessível, a saber: a capacidade de pensar e raciocinar por conta própria, o correto manuseio das ferramentas da educação clássica. Percebemos este elemento de autodidatismo na vida de William Carey que apesar das dificuldades, desde pequeno encontrou o deslumbre na busca pela verdade, bondade e beleza.
- O púlpito da Abadia de Westminster, em Londres, local onde se faz a leitura das Sagradas Escrituras durante as cerimonias religiosas, inclusive os casamentos da família real, é dedicado a William Carey. Na madeira do púlpito está escrita a sua maior mensagem: “Faça grandes coisas para Deus, espere grandes coisas de Deus”. Responsável por perpetuar este legado, o Colégio William Carey através da sua comunidade escolar, entende o seu elevado chamado de auxiliar famílias na formação das futuras gerações para que vivam para Glória de Deus. Não existe nada maior do que glorificar a Deus, isto é o que almejamos todos os dias quando os portões do Colégio se abrem. Consequentemente, estamos desde 2018 recebendo grandes coisas de Deus.
- Perseverar em meio as adversidades. A vida de William Carey foi marcada por superação e perseverança. Timothy George relata em seu livro sobre a vida e a obra de William Carey que certa feita em conversa com o seu sobrinho Eustace, que curiosamente se tornou o seu primeiro biógrafo, Carey afirmou: “Se, depois que eu for levado, alguém achar que vale a pena gastar seu tempo para escrever a minha vida, eu vou lhe dar um critério por que você possa julgar se ele é correto. Se ele me der crédito como batalhador, ele estará sendo justo. Qualquer coisa além disso será demais. Eu sei trabalhar. Eu sei perseverar em perseguir qualquer alvo definido. A isto eu devo tudo.” Estruturar uma escola distintivamente cristã no Brasil, com a desconstrução da herança cristã ocidental em pleno avanço no mundo, com a atual perda de credibilidade das escolas em geral, possuir perseverança é absolutamente essencial. Por essa razão, estruturamos o Colégio William Carey para transmitir este lindo legado para os nossos filhos e alunos.
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Caio Sérgio Alves Baez – Diretor do Colégio William Carey
Caio Baez é licenciado e bacharel em educação física, licenciado em pedagogia, pós-graduado em gestão escolar e especialista em cosmovisão cristã e educação.